Imagem: Dida Sampaio/Estadão |
Brasília -
(atualizado às 21h56) O presidente interino do Supremo Tribunal Federal,
Ricardo Lewandowski, determinou nesta quarta-feira, 29, à Vara de
Execuções Penais do Distrito Federal que analise com urgência o pedido
de trabalho externo feito pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu,
preso em Brasília desde novembro após ter sido condenado no processo do
mensalão.
Assim, Lewandowski tornou sem efeito despacho assinado na semana passada
pelo juiz Mario José de Assis Pegado, que ordenou a suspensão por pelo
menos 30 dias da análise de pedido de autorização para que Dirceu comece
a trabalhar num escritório de advocacia em Brasília.
A decisão do juiz da Vara de Execuções Penais tinha sido tomada para que
fossem refeitas as apurações da suspeita de uso de um celular por
Dirceu dentro do presídio. De acordo com Pegado, se o fato fosse
verdadeiro, seria uma falta disciplinar grave, impossibilitando a
concessão de benefícios ao condenado.
Na sexta-feira, os advogados de Dirceu recorreram ao STF, que está em
recesso. Relator do processo do mensalão e presidente do Supremo,
Joaquim Barbosa está em férias na Europa. A responsabilidade por decidir
os pedidos urgentes está nas mãos de Lewandowski, que trabalhou como
revisor na ação do mensalão, discordou em vários pontos do relator e
chegou a votar a favor de absolvições, inclusive de Dirceu.
Tomada a menos de uma semana do retorno das atividades do plenário do
tribunal, a decisão de Lewandowski deve se tornar um novo componente na
relação já conflituosa entre ele e o presidente do STF. Em férias na
Europa, na semana passada Barbosa criticou, sem citar nomes, Lewandowski
e a ministra Cármen Lúcia. No plantão de janeiro, ambos preferiram não
assinar o mandado de prisão do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), também
condenado no processo, alegando que se trata de atribuição do relator.
Antes de viajar, Barbosa declarou encerrado o processo em relação a João
Paulo, mas não expediu o mandado de prisão. Depois de mais de um mês de
recesso, o plenário do tribunal voltará a se reunir na segunda-feira.
Encerrado. No despacho de desta quarta, Lewandowski atendeu ao pedido
dos advogados de Dirceu e disse que os elementos de prova à disposição
da Vara de Execuções Penais dão conta de que os setores competentes do
sistema prisional do Distrito Federal concluíram, em investigação
recente, que os fatos imputados a Dirceu não existiram.
As suspeitas de que Dirceu teria usado um celular na Papuda começaram a
ser apuradas após o jornal Folha de S. Paulo relatar o suposto diálogo
entre o secretário da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James
Correia, com o ex-ministro em 6 de janeiro, por meio do celular de um
amigo em comum. No pedido analisado por Lewandowski, a defesa de Dirceu
sustentou que apuração da administração penitenciária concluiu que a
notícia sobre o suposto uso do celular era "inverídica e improcedente".
Segundo a defesa, no dia 6, o ex-ministro não recebeu visitas de amigos,
parentes ou autoridades. Ele teria conversado apenas com seus
advogados.
"Não se pode admitir a adoção de uma decisão cautelar que prejudique os
direitos de um cidadão com base em nota de jornal cuja veracidade foi
repudiada pelas investigações da administração pública", sustentaram os
advogados no requerimento analisado por Lewandowski.
Os presos que cumprem pena no semiaberto, como é o caso de Dirceu, podem
pedir para trabalhar fora da cadeia durante o dia. Cinco condenados do
mensalão já receberam o benefício.
Mariângela Gallucci: O Estado de S. Paulo
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