Por Murillo Camarotto | De Salgueiro (PE)
A
letargia observada nas obras de transposição do rio São Francisco
durante todo o ano de 2011, aliada à divulgação de imagens de rachaduras
em um dos canais por onde correrão as águas, irritou a presidente da
República, Dilma Rousseff, que distribuiu broncas no Ministério da
Integração Nacional, responsável pelo projeto.
A
repreensão funcionou: na sexta-feira, o ministro da pasta, Fernando
Bezerra Coelho (PSB), já estava no campo de obras, ao volante de um
gigantesco caminhão, com pneus de mais de dois metros de diâmetro e
capacidade para carregar até 120 toneladas de rochas.
Apesar
da disposição em acelerar as obras, o ministro não estava,
naturalmente, botando a mão na massa. O passeio no supercaminhão marcou
apenas o início das obras do lote 8 da transposição, um dos mais
importantes do projeto, localizado no município de Salgueiro, sertão de
Pernambuco.
A
licitação do trecho foi vencida em novembro pelo consórcio formado
pelas empreiteiras Mendes Júnior e GDK, que além da abertura do canal,
vai construir três estações de bombeamento, a um custo de R$ 275
milhões. Cerca de 1,2 mil pessoas vão trabalhar no local.
Minutos
antes, Bezerra Coelho visitou as obras do lote 3, também em Salgueiro,
um dos poucos que avançam a contento. Sob o sol de 40 graus, o paraibano
Francisco Badu de Souza disse que trabalha no trecho há 11 meses, sem
interrupções. As atividades, no entanto, serão paralisadas em janeiro e
só devem ser retomadas mais de três meses depois.
O
lote 3, assim como outros 11 lotes, de um total de 14, serão
relicitados. Isso ocorre porque os valores definidos na primeira
licitação não foram suficientes para a conclusão das obras, que acabaram
paralisadas. Essa é a principal justificativa do governo federal para o
fato de o projeto da transposição ter avançado apenas 5% em 2011.
Bezerra
Coelho espera lançar todos os editais até março, para que os trabalhos
sejam acelerados no início do segundo semestre. "Acreditamos que dê para
avançar algo entre 12% e 15% no ano que vem", afirmou. O novo prazo
para conclusão do empreendimento, hoje com 57% das obras executadas,
ficou para dezembro de 2015.
Uma
das metas do governo para a próxima etapa será reduzir o número de
construtoras contratadas. A ideia é que as chamadas obras
complementares, objeto das novas licitações, sejam tocadas por no máximo
duas empresas, que vão se juntar às outras duas que tocam atualmente os
lotes 5 e 8. "Acreditamos que quatro empreiteiras seja um bom número",
avaliou.
Ele
também considerou razoável o reajuste de 36% calculado para o custo
final da transposição, que passou a ser de R$ 6,9 bilhões. O valor,
segundo o ministro, é condizente com a variação do INCC, índice que
corrige os preços do setor da construção civil. Apesar de Bezerra Coelho
garantir que o valor se manterá até a conclusão das obras, pessoas
próximas ao projeto duvidam que isso seja possível.
Nos
bastidores, há o temor de que as empreiteiras continuem solicitando
reajustes. A tese é que em tempos de construção civil aquecida, as
empresas não estão muito dispostas a apertar suas margens de ganho em
nome de contratos como o da transposição. "Obra para eles é o que não
falta, ainda mais aqui no Nordeste", afirmou uma fonte próxima ao
projeto. Até agora, a tranposição consumiu R$ 2,77 bilhões.
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